Vivemos em uma época de abundância e, ao mesmo tempo, de paradoxo. Nossos bolsos contêm dispositivos que nos dão acesso instantâneo a um universo de informações, notícias e opiniões. É uma liberdade sem precedentes, um rio de dados que flui 24 horas por dia. No entanto, a mesma velocidade que nos conecta a tudo é a que nos desafia a discernir o que é real, o que é relevante e o que é, na verdade, um ruído perigoso. A jornada da informação, que antes era linear e controlada, tornou-se um labirinto caótico. E nossa percepção do mundo está, mais do que nunca, à mercê do que escolhemos ou não consumir.
A revolução de Gutenberg a Zuckerberg mudou radicalmente a forma como a informação se move. O jornalismo, que outrora era um processo lento e mediado, deu lugar à instantaneidade. Uma notícia explode nas redes sociais em segundos, viaja pelo globo em minutos e já se torna “velha” em poucas horas. Essa velocidade, embora democrática e empoderadora, nos privou de um elemento fundamental: o tempo para a reflexão. O espaço para o aprofundamento foi substituído pela necessidade urgente de se ter uma opinião. Como resultado, nossa dieta de informações se tornou resumida a manchetes, tweets e resumos de vídeos, em que a complexidade do mundo é reduzida a um punhado de frases de efeito.
Essa velocidade tem um custo alto para nossa capacidade de análise. O fluxo constante de notícias, muitas vezes sensacionalistas, ativa nosso sistema de reação rápida, nos mantendo em um estado de alerta permanente. Isso pode levar ao que a psicologia chama de viés de confirmação, onde a mente humana tende a buscar e a valorizar informações que corroboram suas crenças pré-existentes. Nas bolhas de redes sociais, alimentadas por algoritmos que nos mostram mais do que já gostamos, nossa visão de mundo se torna cada vez mais estreita, e a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro se atrofia. O “outro lado” não é visto como uma perspectiva diferente, mas como uma ameaça.
Diante desse cenário, a nossa responsabilidade como cidadãos digitais se torna cada vez mais urgente. Afinal, a informação não é apenas consumida; ela também é compartilhada. E é nesse momento que a nossa ação se torna crucial. Como bem colocado em uma reflexão do livro De Gutenberg a Zuckerberg, “o essencial está entre o copy e o paste.” Essa frase encapsula a necessidade de um novo tipo de alfabetização digital: a de que o valor não está em copiar e colar um conteúdo de forma automática, mas no que acontece no hiato entre essas duas ações. É nesse pequeno espaço que reside a nossa capacidade de questionar a fonte, de verificar a veracidade, de buscar outras perspectivas e de adicionar nossa própria análise.
Ao assumirmos essa responsabilidade, a jornada da informação deixa de ser um caminho de mão única e se torna uma via de mão dupla. O consumidor se torna também um curador, um analista, um contribuinte para a saúde do ambiente digital. A velocidade e a abundância não precisam ser nossos inimigos, mas, sim, um convite para que nos tornemos mais conscientes de nosso papel na construção de uma sociedade bem-informada. A nossa percepção de mundo não precisa ser um reflexo do ruído; ela pode ser o resultado de uma busca intencional por fatos e verdades.
No fim das contas, a era da informação não exige apenas que tenhamos acesso a tudo, mas que saibamos como filtrar o que importa e como usar essa informação de forma sábia e responsável. É uma jornada que começa com um clique, mas que só termina quando paramos para pensar.






